terça-feira, 1 de abril de 2014

As aparências



Ligar às aparências é uma coisa tonta.
Não devemos perder tempo com isso. Devemos fazer o que queremos, sem pensar no que os outros vão achar.
O que interessa é o que cada um sente e pensa, e pouco importa o que os outros vêem nisso.
Isto faria todo o sentido… caso cada um de nós vivesse isolado numa ilha. Uma ilha com areia branca e mar azul turquesa, de preferência. Aí seria mais fácil fazer tudo o que nos desse na gana, porque cada acção teria impacto apenas em nós (e em meia dúzia de palmeiras).
Mas isso não acontece.
O que acontece é que vivemos em sociedade e somos frutos de um contexto.Ninguém nasceu sozinho, ninguém se educou sozinho, ninguém cresceu sozinho. Vivemos numa dependência mútua e neste sentido, cada comportamento nosso tem uma consequência social. Ignorar que as nossas palavras, acções e decisões afectam quem nos rodeia seria uma ingenuidade.
Há um ditado que diz à mulher de César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo.
Precisamente porque vivemos em sociedade, não importa apenas o que somos, mas também o que parecemos.
É preciso por isso encontrar uma forma de equilibrar o que somos e o que parecemos, sem nos vendermos pelo meio. Para atingir este equilíbrio, entre a aparência e a essência, ajuda evitar 2 extremos:
1. Viver em função do que os outros pensam.
Há quem viva com uma preocupação exagerada pelo que os outros vão achar. Mais dedicado a tentar impressionar do que em ser quem realmente é. Quem vive assim nada lhe satisfaz, porque é impossível corresponder ao que tantas pessoas diferentes pensam. Quem vive em função do que os outros acham, perde-se a si pelo caminho. Contudo, há outro extremo…
2. Não ter em conta o que os outros pensam.
Desprezar inteiramente o que os outros pensam pressupõe que os outros não servem para grande coisa, sendo que a única que realmente interessa… somos nós.
Normalmente não temos em conta o que os outros pensam ou por ingenuidade ou por arrogância. Ingenuidade quando partimos do pressuposto que toda a gente vai perceber ou confiar em nós. Arrogância quando achamos que os outros têm obrigação de perceber as nossas intenções e acções.
Há ainda uma outra desconsideração pela opinião dos outros, disfarçada por uma suposta frontalidade: Faço tudo o que penso, não me interessa o que vão pensar de mim, sou muito frontal.
Não, não és. És como uma criança que não filtra. Experimenta estar numa reunião no trabalho e dizer quero fazer cocó…
Há uma “frontalidade” que é apenas uma bravata exibicionista que nada tem de inteligente ou construtivo.
Há por isso um equilíbrio dinâmico a encontrar, entre estes dois extremos. Hoje pode fazer sentido tomar uma decisão sem levar a sério outras opiniões, mas amanhã pode fazer sentido pensar seriamente no que os outros acham. O equilíbrio passa por ter em conta o que os outros pensam, sem estar dependente disso.
O nosso comportamento deve mostrar o que somos. A nossa aparência deve manifestar a nossa essência. O exterior deve expressar o interior.
Temos que ter em conta que há implicações muito complexas de viver em sociedade. Mas é muito mais interessante viver num mundo em que estamos interligados – com todas as aparências e com todas as confusões que isso implica – do que num mundo em que cada um está isolado e só pensa em si.
As aparências servem então para aparecer, não para parecer. Servem para revelar, não para velar. 
Não basta ser, é preciso parecer. E ainda bem que assim é.

Texto: Inesperado

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